Por que escritores e artistas adoram os gatos? – Tenho a minha teoria

Por que escritores e artistas adoram os gatos?

Tenho a minha teoria

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É imensa a lista de escritores, artistas, pessoas criativas e interessantes que amam os gatos. Ficamos com alguns representantes: Charles Baudelaire, Jorge Luiz Borges, Ernest Hermingay, Salvador Dali, Henri Matisse, Andy Warhol, Picasso.

Ney Matogrosso tem sua gata, que se chama Pretinha. Nélson Motta vive postando fotos de seu gato, Max, que parece já ter idade. Todos loucos pelos seus gatos, como eu sou louca pela minha gata, Gaia, no auge dos seus quatro anos.

Sigamos por algumas trilhas para entender o porquê de tanta afinidade com os pequenos felinos adoráveis.

Artistas e todo esse pessoal que lida com ficção, literatura e arte em geral, via de regra tem uma sensibilidade maior que àquela da grande massa.

Nenhuma depreciação.

O mundo é um lugar diverso, onde cada um tem um lado mais desenvolvido no cérebro, apto a desenvolver suas funções. Os mais pragmáticos são fundamentais para incontáveis coisas importantes da vida. Já os mais sensíveis são melindrosos e tendem a viver intensamente as emoções. Resulta que pagam um preço alto porque a brutalidade do mundo os afeta também em uma dose maior. Tendem, graças à uma carga extra de empatia, a captar, com muita facilidade, as vibrações positivas, mas também as falsidades, mentiras e dissimulações. E sofrem com isso.

Nem servos de Deus, nem servos do Diabo

Quem tem gato, sabe. São profundos, intuitivos e tão sinceros que sob nenhuma hipótese vão fingir alguma coisa que não estão sentindo, incluindo afeto. Caso o fizessem, contrariariam sua dignidade, que é total.

Os gatos não dobram a espinha, não por serem simplesmente orgulhosos, mas por serem inteligentes demais para se submeterem a cretinices. São muito perspicazes, captam as más intenções de longe, e quando te flagram com alguma atitude mesquinha ficam bem longe, te ignoram.

Eis a teoria: Sendo os gatos seres tão puros, artistas e escritores, com sua capacidade sensorial acentuada, se identificam, se sentem à vontade com eles. Existe outro aspecto da personalidade dos gatos que tem muito a ver com esses grupos: são livres por natureza, dizem que são independentes, mas a palavra que melhor se adéqua é a liberdade de decidir o que querem fazer e como fazer.

Algum chato pode questionar: mas os animais são todos assim, puros, sinceros e livres. É verdade, mas o post é sobre gatos, então deixa de ser cri cri (se quiser fale dos seus cachorros, do seu coelho, o espaço esta aberto, será um prazer).

Vamos lembrar também da famosa aura de mistério dos gatos. São seres que parecem conversar com o invisível, coisa que combina muito com a arte e com a ficção literária. No curta-metragem O olho do abutre, (2009) usamos um gato da raça Sphynx, aquele todo pelado, e o resultado foi sensacional.

O curta é baseado no conto de Edgar Allan Poe, que também tem um de seus contos, O gato preto, entre os mais conhecidos.

Onde tem mistério, tem que ter gato.

Em As horas nuas, Lygia Fagundes Teles apresenta o gato filósofo Rahul, que reflete sobre o comportamento humano e apresenta memórias de outras vidas.

Alias, falando nela, veja o que Lygia escreveu em “A disciplina do amor”, publicado 1980:

Às vezes, quando a ordem coincide com sua vontade, ele atende mas sem a instintiva humildade do cachorro, o gato não é humilde, traz viva a memória da sua liberdade sem coleira. Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem servo de Deus. Nem servo do Diabo.”

Um baita cara

O maluco genial Charles Bukowski tem um livrinho que se chama Sobre gatos, no qual derrama poemas e microcontos em homenagem aos peludinhos que passaram pela sua vida errante. E foram muitos. Fico imaginando o que era ser um gato de Bukowski, mas, para além de uma certa instabilidade constante nas suas rotinas, eram muito amados.

Na orelha do livro está dito que, para ele, os gatos eram “criaturas majestosas, potentes, sensíveis, cujo olhar inquietante pode penetrar as profundezas da alma. Forças únicas da natureza, emissários sutis da beleza e do amor.”

Para terminar, um dos continhos do livro, que sintetiza a minha teoria:

O gato vesgo sem rabo apareceu na porta um dia e nos o deixamos entrar. Velhos olhos cor-de-rosa. Um baita cara. Os animais são inspiradores. Eles não sabem mentir. São forças naturais. A TV pode me deixar mal em cinco minutos, mas posso olhar para um animal por horas e não ver nada além de graça e glória, a vida como ela deveria ser.

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