Lygia Fagundes Teles – A dona de todos os contos

Lygia Fagundes Teles – A dona de todos os contos

Era a década de 1980 e eu estava no primeiro ano do ensino médio. Ali pelo meio do livro de português tinha um conto muito instigante. Me apaixonei por aquela narrativa, li várias vezes. A história curta, intitulada Venha ver o pôr do sol, falava de um encontro entre os ex-namorados Raquel e Ricardo.

Foi um namoro de um ano que chegou ao fim. Raquel seguiu seu rumo e, a essa altura, tinha um namorado rico. Ricardo continuou pobre e pelo jeito ainda muito ligado a Raquel. Ele a convida para um passeio no fim da tarde. Raquel aceita, mas fica surpresa quando descobre que o local é um cemitério abandonado. Como Ricardo é um tipo particular, Raquel acha engraçado aquele lugar insólito.

Não vou contar o resto porque parte da beleza do conto é justamente o seu desfecho surpreendente. Só adianto que, embora pareça, Ricardo não é bobo, nem está brincado.

Fiz um curta com esse conto

Venha ver o pôr do sol é um dos contos mais bem escritos e estruturados que já li. O texto é incrível, envolvente, tem clima, suspense, surpresa, enfim, é um roteiro pronto de cinema.

Décadas mais tarde, quando me preparava para rodar o primeiro curta metragem (sim, me aventurei nessa área por um pouco), quis filmar o conto. Não me lembrava da autora, mas pesquisando cheguei a ela, a super escritora Lygia Fagundes Teles.

Descobri outros contos de Lygia, romances, descobri sua obra. Vi que ela era influenciada por Edgar Allan Poe de quem também sou fã absoluta.

Lygia morreu em 2022, aos 103 anos, uma vida necessária e produtiva, que deixou um legado de fazer inveja a qualquer escritor do mundo.

Não foi por acaso que sua obra teve a admiração e o respeito de nomes como Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Caio Fernando Abreu, José Saramago, só feras!

Sua obra é extensa e consistente, mas me atenho nesta resenha a falar da Lygia contista, que adoro.

Lygia nasceu em 1918, mas como é atual! Sua liberdade expressiva é total, seus temas são sensíveis e sua forma de escrever muito agradável.

Veja um aperitivo do conto Venha ver o por sol, repito, trata-se de uma obra-prima.

É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada.

Vamos embora, Ricardo, chega.

Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambiguidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.

Para ler o conto basta acessar o link abaixo, vai gostar!

https://contobrasileiro.com.br/venha-ver-o-por-do-sol-conto-de-lygia-fagundes-telles/



Texto: June Meireles

Foto: Vladimir Srajber



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